OBJETIVO DESTE BLOG

Compartilhar textos, poemas e impressões de uma forma mais literária sobre sustentabilidade; em um livro vivo - esse é o objetivo básico desse blog. Aqui busco tecer relações entre o conhecimento científico e outros saberes e sabores, outras visões de mundo. Há sugestões de atividades e perguntas que provocam e/ou convidam à reflexão. Os poemas estão protegidos pela Lei de Direitos Autorais na Biblioteca Nacional (Lei 9.610/98). A reprodução dos textos é permitida desde que citada a fonte e/ou respectivas referências bibliográficas. Aviso Importante: As postagens (textos e atividades) são dinâmicas e serão atualizadas independente do mês que foram escritas. Boa Leitura! Mande-me sugestões.

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Embalagens, estilo de vida e meio ambiente


Entrevista concedida à Revista Ecologia Integral - (Especial Resíduos) - nº 31 – páginas: 23 e 24 - Uma publicação do Centro de Ecologia Integral – http://www.ecologiaintegral.org.br/



Após traçar o panorama da evolução das embalagens na publicação A evolução da embalagem, quais seriam as suas conclusões sobre este processo que estamos vivendo de estilo de vida e produção de resíduos?

As embalagens se sofisticaram muito com o passar do tempo. Dos chifres e conchas usados inicialmente até as so­fis­­ticadas embalagens que vemos nos supermercados há toda uma história de evolução da ciência, do marketing, da psicologia. Cada dia que passa, as prate­leiras estão sendo invadidas por produtos em embalagens complexas de grande apelo visual, cuja mistura de materiais dificulta e/ou impede a reciclagem. Os produtos colocados na prateleira são colocados para agradar a nós, consumidores. Se simplesmente nos deixamos con­duzir pela beleza aparente das embalagens, sem ter uma postura do “por quê”, “para quê”, “quanto custa”, “qual o benefício geral que o produto me propor­ciona” e “de onde vem?, para onde vai a emba­lagem do que estou comprando?”, fica difícil para as empresas mudarem suas escolhas em relação aos sistemas de produção e imple­mentar mudanças em suas embalagens. As que adotam medidas de proteção am­biental muitas vezes enfrentam a concorrência de empresas que têm pouca ou nenhuma preocupação socioambiental. Além de uma boa admi­nistração, as empresas dependem de nós para manterem sua saúde financeira. Desta forma, nós consumidores precisamos assumir nossa parcela de responsabilidade ambiental e nosso poder de mudar aquilo que dizemos que não concordamos. Precisamos ser pró-ativos: se compramos sem levarmos em conta a questão socioam­biental, favorecemos empresas que também não têm essa preocupação.

A sociedade atual está disposta a abrir mão da praticidade das embalagens e dos descartáveis pela preservação do planeta?

Nas minhas aulas de Ecodesign e Produção Mais Limpa, sempre destaco de que não há necessidade de voltarmos para a idade das cavernas. As embalagens são necessárias. A forma com que elas são feitas é que deverá mudar à medida em que formos curando nossa miopia tecnológica e cultural. Estamos passando por um período de transição de mentalidades. A natureza tem suas próprias emba­lagens com design atrativo, estética, funcionalidade e biodegradabilidade. Nós devemos incorporar princípios ecológicos à tecnologia nesse século, para continuarmos a existir. É necessário abrir mão de alguma praticidade? As vezes sim, por exemplo, nos auto-educando a levar uma sacola para as compras do supermercado para reduzir o uso o consumo das sacolas descartáveis. Se estamos dispostos? Essa resposta para mim é individual. Cada pessoa deve saber de suas próprias limitações e cobrar a mudança das empresas na mesma proporcionalidade de que cobra mudanças em seu próprio comportamento. Empresa são organizações humanas, espelham o com­portamento da sociedade. Não tem mágica no processo.

Na sua opinião, como a questão das embalagens e resíduos se relaciona com os conceitos da ecologia integral?

Essa é uma questão complexa... A natureza tem embalagens, tem resíduos mas não gera lixo e todas as suas embalagens são biodegradáveis, servem de matéria- prima para outros seres vivos. Nós humanos, com a nossa tecnologia, capaz de manipular a matéria através do conhecimento da Química e Física, criamos o que chamamos de lixo. Boa parte deste “lixo” não é biode­gradável e, portanto, não entra novamente nos ciclos biogeoquímicos, que é por onde circulam os átomos na natureza. Aprender a trabalhar com a matéria como a natureza faz é um processo de evolução da consciência humana e é ai que entra o Ecodesign: aplicar os princípios ecológicos nas tecnologias humanas e, mais especi­ficamente, na confecção de embalagens sustentáveis. É um desafio de toda a indústria mundial. Já vemos isso começar a acontecer com a criação dos plásticos derivados de mandiocas, por exemplo.

As pessoas precisam ter consciência de que o mundo ao seu redor espelha o que ela tem dentro de si. Há autores que discutem o lixo na dimensão da nossa dificuldade em lidar com a morte. Produtos que não são biodegradáveis não morrem, são “eternos”. Nosso corpo não é eterno, é matéria: “Viestes do pó e ao pó retornarás”. Essa frase bíblica é muito sábia. Também um químico chamado Lavoisier foi muito sábio ao dizer: “Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. A natureza é movimento, é o Tao, é o caminho. Nós temos dificuldade em termos uma visão de vida dinâmica. Nossa sociedade não foi construída dentro de um paradigma biocêntrico (centrado na vida). Aprendemos que todo o planeta deveria servir a uma única espécie. Agora estamos colhendo os frutos desta escolha.

Todos pertencemos a uma só raça: a raça humana, que está em evolução. O lixo, o material não reciclável são símbolos. A sujeira física está ligada à poluição mental, psíquica, emocional. Se arrumarmos nosso primeiro “oikos”, nossa primeira casa, arrumaremos o mundo. Isso é a ecologia pessoal influenciando a ecologia ambiental, a meu ver. Precisamos de atitude. Temos visto muitos consumidores exigirem mudanças das empresa e do governo sem uma mudança de atitude para atos rotineiros de consumo. Seria muito bom se os ambi­entalistas ou educadores ambientais que fumam estabe­lecessem e divulgassem suas próprias metas de redução de consumo de cigarro, por exemplo. Também seria muito bom se todas as pessoas donas de automóveis preocupadas com a preservação ambiental colocassem um catalisador novo sempre que o que vem em seu carro terminar a vida útil. Eu estabeleci uma meta pessoal: reduzi o meu consumo de carne a uma vez por semana. Uma contribuição para a redução da minha parcela do aquecimento global. Acima de tudo, estou cuidando de mim. Isso é parte do egoísmo saudável. E quem está disposto a assumir a própria parcela de responsabilidade? Mudar organizações complexas requer mudar pessoas que estão dentro delas e que são iguais a mim e a você. Também não tem mágica.


Sabemos também que muitas pessoas estão interessadas em fazer as coisas certas, mas não têm informação adequada ou apoio de prefeituras e órgãos públicos para a destinação correta dos resíduos. Como resolver esta questão?

Na minha opinião, não há mais tempo para esperar! De um lado, as pessoas precisam de parar de esperar apoio de prefeituras e órgãos públicos. As pessoas precisam assumir o próprio poder. Quem quer informação, hoje, se for atrás, consegue. Há bibliotecas, salas verdes, centros de educação ambiental públicos e privados, livros, jornais, vídeos, murais nas escolas, revistas, internet. E, acima de tudo, há pessoas interessadas em se juntar a outras pessoas para trocar experiências, trabalhar em redes, inclusive de educação ambiental, associações, clubes, movimentos organizados.
De outro lado, as pessoas precisam aprender a fazer valer seus direitos de cidadãos e cidadãs mediante o poder público. Então precisam aprender sobre leis, direitos e deveres. As pessoas precisam aprender a votar, e a fazer política, deixando de lado a politicagem. O consumo em si é um ato sobretudo político. Com a minha compra eu mantenho vivo todo um processo produtivo, econômico quer seja ele social e ambientalmente responsável ou não. Então assumir responsabilidade passa por se assumir como um ser político.

O que os idealizadores esperam com a publicação A evolução da embalagem?

O objetivo maior da publicação é contribuir para a formação de consumidores mais críticos e conscientes em relação as suas próprias escolhas; que tenham atitudes de compra que privilegiem a proteção ambiental. Isso tem a ver com um processo de formação na qual as escolas têm um papel fundamental. Existe uma preocupação grande dos idealizadores do projeto de que a publicação chegue efetivamente às mãos de alunos e professores das escolas estaduais. Além disso, a publicação tem a preocu­pação de contextualizar as embalagens através da história humana, dando visibilidade ao ciclo de vida dos materiais.


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*A entrevistada foi responsável pela pesquisa e elaboração do texto da publicação “A evolução da embalagem: informações para uma nova geração de consumidores conscientes”. A publicação foi um projeto do SINPAPEL. Os interessados em adquirir a publicação devem entrar em contato com o Sinpapel, através do telefone (31) 3282-4755 ou pelo email sinpapel@fiemg.com.br

Os desafios na implantação de tecnologias limpas nas empresas do Brasil

A Agenda 21 destaca a importância da colaboração entre países dos hemisférios norte e sul assim como o uso de tecnologias limpas associadas à mudança comportamental. As empresas brasileiras, no entanto, encontram várias dificuldades na implementação de mudanças no processo produtivo, como por exemplo: a falta de incentivos fiscais, a elevada carga tributária, o preço da tecnologia, dentre outras. Grandes resistências na implementação de novas tecnologias também estão associadas à mudanças comportamentais de funcionários. Atualmente, as empresas brasileiras estão saindo do paradigma da cultura de fim de tubo – instalação de filtros e ETEs, tratamento dos resíduos, disposição final, recuperação de áreas contaminadas – para a cultura preventiva que envolvem a prática dos 4 Rs: Repensar, Reduzir, Reutilizar e, por último Reciclar. A evolução do Repensar leva à adoção do Ecodesign de produtos e serviços, incluindo todo um Repensar Organizacional para a prevenção da geração de resíduos e contaminação ambiental intra e extra-muros. Envolve a formação integral de funcionários, a humanização das empresas, o oferecimento de produtos e serviços que efetivamente favoreçam a vida humana e não humana dentro e fora dos muros da empresa.

No repensar a empresa para a minimização de resíduos e redução da geração na fonte envolve do ponto de vista técnico: a eliminação/redução do uso de matérias primas com atenção especial para susbstâncias tóxicas, melhoria nos procedimentos operacionais e na aquisição e estoque de materiais; uso eficiente de insumos tais como a água e a energia, reuso/reciclagem dentro do próprio processo, a adoção de tecnologias limpas e melhoria no planejamento dos produtos e a formação/capacitação de profissionais. De todos os itens acima citados, considero o mais desafiador a formação/capacitação de profissionais. Dentro da cultura atual, investir U$150 milhões em máquinas de última geração é muito mais justificável e aceitável do que investir igual valor na formação de profissionais. Um dos resultados dessa cultura de baixo investimento em Educação são empresas que operam com máquinas do século XXI operadas por cabeças do século XVII, profissionais e gestores da área ambiental com pouco ou nenhum hábito de consultar revistas científicas e pouca ou nenhuma visão sistêmica. A falta de embasamento técnico-científico e visão sistêmica também pode ser observada em profissionais de ONG e educadores ambientais.

Uma empresa é formada antes de tudo por pessoas que tomam decisões todo o tempo. O investimento na formação humana integral de profissionais, onde o conhecimento técnico e a alfabetização científica estão inseridas, é fundamental para o desempenho profissional dentro de uma organização no século XXI. Apostar em equipes bem formadas é apostar em prosperidade organizacional. Se parte da educação dos funcionários deveria estar sendo dada pelo Estado, é hora das empresas cidadãs cobrarem maiores investimentos na Educação Brasileira. Bom para o bolso do empresário. Bom para a saúde e bolso do funcionário, dos clientes e para as gerações futuras.

Publicado na Revista Eletrônica do Ietec/2006

Deborah Munhoz – Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pelo DESA – EEUFMG; especialista em Bio-Sistemas Organizacionais pelo Instituto Orior, Bacharel em Química pela UFMG. Professora de Ecodesign e Produção Mais Limpa do curso de Pós Graduação em Engenharia Ambiental Integrada do IETEC e facilitadora da Rede Mineira de Educação Ambiental e da Rede Brasileira de Educação Ambiental.

O Mistério das Coisas Prontas

Como citar esse artigo:
MUNHOZ, D. O mistério das coisas prontas. Revista Ecologia Integral, Ano 4, n.18, jan/fev 2004, pp 27

A vida na cidade é fantástica: Você pode encontrar tudo o que precisa no supermercado ou na drogaria mais próxima de você. Alíás, não precisa mais sair de casa para fazer compras, basta escolher e pedir pela Internet. E, se estiver precisando de sentir-se livre, acrescente na lista de compras uma bebida energizante: pois “te dá asas!” Este é o mundo urbano, onde tudo que a gente precisa pode ser encontrado nas prateleiras de um shopping center. Até pessoas! E com relativa facilidade! A verdadeira origem dos infinitos produtos ofertados, no entanto, permanece velada. Parte dela vem contida nos rótulos, que poucos se dão ao trabalho de ler. Apenas consomem. Fala-se muito sobre a destinação final do lixo gerado, mas o que está por trás das sedutoras propagandas permanece um mistério. A identidade secreta dos materiais permanece velada atrás de processos produtivos desconhecidos que a propaganda não mostra e que muitos consumidores não querem nem saber.

Segundo a pesquisa realizada pelo MMA em 1998 – O que o brasileiro pensa sobre o meio ambiente, do desenvolvimento e da sustentabilidade – o número de consumidores que podem ser considerados como “verdes” ainda não é expressivo e há divergência quanto a possibilidade do quadro mudar em um período curto de tempo. Tomando a pesquisa como referência e considerando que o discurso da proteção ambiental está bastante presente na mídia, na sala de aula, entre bate papos e atividades de educação ambiental, concluo que existe muitas pessoas Pré-ocupadas mas pouco Ocupadas em poupar verdadeiramente os recursos naturais. Afinal, em um jeito prático de pensar, quem tem que se ocupar com isto é o governo e as indústrias, não é mesmo? Atrás da Pré-ocupação encontra-se um hábito escondido, que fica desapercebido e que dá trabalho desvelar e transformar.

Mas para quem quer sair da preocupação e caminhar para a ocupação, proponho então algumas perguntas básicas: O que estou consumindo? Quanto estou consumindo Por que estou comprando ou querendo comprar? Quem produziu? Como produziu? Tenho opções? Que tipo de propaganda está fazendo para convencer-me a comprar? Que elementos o fabricante (e o/a vendedor(a) está usando para me convencer a comprar? Cabe também perguntar: até onde estamos dispostos a proteger a natureza repensando e mudando o nosso padrão de consumo? Exemplo: O consumo de balas para refrescar o hálito após o almoço. Uma prática saudável após uma refeição é escovar os dentes, pois além de refrescar o hálito, evita cáries. E se evita cáries, evita o consumo de todos os insumos necessários para uma obturação. Um deles é o mercúrio, mesmo metal usado nos garimpos e que causa tanta contaminação ambiental. Então, se facilitamos o processo da cárie e condenamos a prática do garimpo, como fica o problema da contaminação ambiental por mercúrio? Será que o lixo do dentista tem uma destinação final adequada? Qual a minha responsabilidade no processo? A compra de alimentos também é um bom exemplo.

Aqui dar-se ao trabalho de ler o rótulo e etiquetas e procurar informações sobre seus significados para poder fazer uma escolha consciente é essencial. Já se perguntou: por que comprar água mineral artificial? E as roupas e sapatos lançados para durar apenas uma estação, ou vendidos em liquidação... quanto da natureza foi gasto para em três meses ou mesmo duas lavadas virar “lixo”? Estes são exemplos típicos do barato que sai caro. Economizamos na compra imediata, gastamos mais ao longo do ano para repor as peças que deixaram de ser apresentáveis e assim vamos consumindo mais a natureza. É preciso lembrar que atrás de uma indústria responsável está um consumidor consciente. A medida que desvelarmos o ciclo de vida dos produtos e assumirmos nossa responsabilidade pessoal no processo de degradação ambiental, passaremos a fazer diferença. Como disse Gandhi: Nós devemos ser aquilo que queremos ver no mundo.


* Deborah Munhoz é Consultora em Gestão da Qualidade de Vida e Sustentabilidade. Formada em Química pela UFMG e Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pelo DESA/EEUFMG* Professora do MBA em Gestão Ambiental Empresarial e da pós graduação de Engeharia Ambiental Integrada do IETEC. Atua com consultora de empresas e palestrante em todo o Brasil.

VEJA o filme produzido pela Tider Foudation, Funders Workgroup for Sustainable Production and Consumption e Free Ranges Studio:

A HISTÓRIA DAS COISAS

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Parte 5

Parte 6


Parte 7

Memórias de um ancestral sagrado

Jovens Xavantes Celebrando o Sol: http://karipuna.blogspot.com/2007/11/o-lendrio-roncador.html


Há um grande abismo entre a maneira com que os povos indígenas se relacionam com o planeta e o modo com que a nossa cultura interage com o ambiente em que vive. Para eles, os índios são a Terra, enquanto para nós, apenas estamos sobre a Terra. Essas diferentes formas de autopercepção em relação ao lugar onde vivem também se refletem na maneira com que ambos os povos se relacionam com a água.

Embora seja responsável pela maior parte da composição de nosso corpo, espelhando a composição do planeta, nossa civilização vem mantendo uma estranha relação de distância com a água ao longo dos anos. Nós nos relacionamos com ela como se fosse uma fonte inesgotável, da qual usufruímos como os únicos a quem ela deve servir. Quanto mais civilizados, mais educados para Ter e não para Ser e maior a ilusão de possuí-la. Gradativamente, fomos esquecendo nosso papel ecológico e, consequentemente, fomos corrompendo a função ecológica da água, transformando-a em esgotos.

Para os índios, a água é uma ancestral sagrado. Das águas foram tecidos os corpos dos sentimentos. Assim, se os seres humanos podem se emocionar diante da vida, é graças ao espírito sagrado das águas, que é mãe e avó. É considerada a senhora da abundância e do amor por muitos povos nativos, seja chuva, orvalho, lagoa, mar, lágrima ou cachoeira: é a fonte que tudo vivifica. Nas aldeias, ocupa lugar especial diante da porta da frente das casas. Sua beleza é apreciada e venerada.


Mas onde está a água em nossas cidades? Poderíamos dizer que ocupa um lugar semelhante os dos nossos sentidos e sentimentos: escondida e contida pela dureza e artificialidade dos canos, concreto e asfalto. Contaminada pelos valores artificiais, urbanos e egocêntricos. Assim como são raras as vezes em que experienciamos nossos sentimentos na sua plenitude, tampouco experienciamos a água na sua beleza. Precisamos parar de apontar os outros como culpados pela degradação das águas. Ela está contaminada por nossos valores, nossos hábitos, vaidades, atitudes, cultura. Espelha o nosso ambiente interno.

Nos 500 anos de Brasil, é preciso recuperar nossa memória nativa ancestral e aprender com a água, que nos ensina a tradição do fluir, da abundância, da clareza, da transparência, do encontro, do servir, da liberdade. Como nos lembram os índios, assim como nossos ancestrais, é preciso deixar às futuras gerações um caminho de infinitas possibilidades às quais chamamos de futuro, ou se preferirmos, culturas sustentáveis.

Publicado em:

MUNHOZ, Deborah. Memórias de um ancestral sagrado. Revista Ecologia Integral, Ano 3, n.12, jan/fev 2003, p. 30

------------- Memória de um ancestral sagrado. Caderno Ecológico – Estado de Minas, em 30 de abril de 1999





Aprenda mais sobre a nossa cultura ancestral:
Leia: A Terra dos Mil Povos, do índio Kaká Werá Jacupé - Ed. Peirópolis
Visite o Instituto Arapoty: http://www.arapoty.org/

A Grande Onda

(Deborah Munhoz)




Foto: Alex Gray
http://www.volcom.com/blogs/blog.asp?blogID=6


A grande onda é o mar!
Somos todos onda e parte desse mar:
Mar de montanhas, mar de galáxias,
Tudo e nada na mesma estrada.
Luz e verso, neste e em outros universos.

Quanta de ação em multidões.
Luz que põe fim à violência
Trazendo à tona a minha e a sua essência

A grande onda é amar o mar!
Amar entre trilhas e montanhas,
Trazendo a prosperidade para a terra natal.
Pátria. Mátria!

Riqueza que se vê com os olhos da alma,
Riqueza que se materializa no trabalho
Com a beleza da alma.

Entrar na onda.
Surfar dos rios às estrelas,
Em grandes montanhas e cachoeiras.
Brincadeira de quem é feliz!

Água em Movimento

(Deborah Munhoz)

Somos água
Seres de água, nuvem de água.
Alma, fonte,
Corpo e emoção.
Ondas da mente,
Ondas de água,
Ondas de alma,
Surf.

Calma, descanço.
Chuva, corrente.
Vento, movimento,
Calor, nuvem.
Sol que evapora grandes massas líquidas e
Move grandes massas de água no ar.
Vôo leve sobre a terra...
Transporte de informação à longa distância.
Movimento sem barreiras pela ar, movimento com barreiras pela terra.
Permeia a rocha e
Revela a alma da terra.
A mesma lágrima que revela a alma de homens e mulheres.

É o inconsciente coletivo que precisa ser transformado
Em consciência coletiva.
É neve branca,
Ouro líquido,
Rio Negro,
Lago verde.
É pé de alface e alga marinha.
Corpos que se tocam dentro d´água,
Corpos que se conectam dentro d´água.
Plâncton e benton,
Branco, Negro,
Povo Índio.

Água do povo brasileiro,
Alma do povo brasileiro,
Sangue do povo brasileiro.
Azul da nossa bandeira que é
Céu estrelado com arco-íris;
Cristais de gelo nos anéis de saturno,
Manta de gelo sobre os Andes,
É suco de fruta gelado,
Sorvete de tapioca,
Lima e limão.
Águas de março que fecham o verão.
Mais profundo do que você vê,
Muito além do que está nos cliches:
Trabalhe pela água que é você


(Publicada na Revista Ecologia Integral, Ano 6, n.27, jan/fev/mar 2006, pp 27)


Atividades
1. Observe a sua volta. Desenhe o movimento que a água está fazendo em você e a seu redor nesse instante.

2. Quais são os ciclos biogeoquímicos conectados com o ciclo da água?

3. Você já pensou na relação entre sua forma de pensar, suas emoções e a vibração das moléculas de água do seu corpo?

4. Ampliação de paradigma: As culturas orientais como a budista, taoísta e indiana cujas medicinas nasceram por volta de 3.000 anos antes de Cristo, assim como nossa tradição indígena e a homeopatia tratam muitas das doenças humanas a partir da forma de pensar e das emoções. São consideradas medicinas sutis pois agem sobre os corpos humanos (e não somente sobre o corpo físico) a partir da dimensão energética, ou quântica, como preferem alguns. O pensamento químico tradicional no qual se baseia a medicina alopática e a criação de fármacos não considera tal relação. Nos último anos, um japones chamado Masuru Emoto vem chamando a atenção. Ele pesquisa como nossas emoções afetam o processo de formação de cristais de água. Conheça um pouco do trabalho deste japones através de um fragmento do filme: "Quem somos nós", dirigido por Betsy Chasse , Mark Vicente e William Arntz disponível no Youtube.

A influência do pensamento na formação de Cristais de Água -
Trecho do filme "Quem somos nós"



Este argumento nos faz pensar na importância de praticarmos aquilo que queremos ver no mundo. O universo pessoal de cada um possui um imenso poder de influenciar o todo.
Faz você pensar nas suas atitudes cotidianas?

Você pode estar pensando: "Alguém está viajando nessa história.... ou estória(?)"

5. Já sei: você pensa que vivemos em universo sólido, não é? Experimente pensar um pouco com a Física Quântica. Segundo estudos avançados, toda a matéria que conhecemos é formada por .... C O R D A S!!!!!!! Sim, como de um violino! O que faz a diferença na aparência da matéria é a forma como as cordas vibram. A conclusão: O universo é uma espécie de sinfonia cósmica.... como já diziam os budistas e os Vedas - antigas escrituras sagradas que constituem a base do hisduísmo! Não é fascinante?!

Conheça a Teoria das Cordas neste fragmento do documentário da BBC (disponível no Youtube - palavras chaves para busca: universo paralelo - universo elegante - teoria de cuerdas):





5. O que é mudança de paradigma? Veja a explicação com o Dr. Quantum quando ele visita a Planolândia. Após visitar a Planolândia, ele vai para o laboratório e fala sobre a capacidade da matéria em modificar seu comportamento quando é observada, ora se comportando como partícula e ora se comportando com onda:




Para saber mais sobre mudança de paradigma:

Leia: CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. 17.ed. São Paulo-SP : Editora Cultrix Ltda, 1996.
Assista: O ponto de mutação - o filme. Disponível em http://video.google.com/videoplay?docid=854094769667634943

Gota D´Água

(Deborah Munhoz)

Gota que sai não sei de onde
Gota que vai não sei pra onde
Gota que rola, bola
Gosto cristalino, cheiro natural
Acompanha a dança, criança
Num ritmado compasso:
Ping...Pong... Ping... Pong... Ping
Sobe e desce, nasce e cresce e
Vai pelo mundo a fora,
Toda hora,
Finalmente,
Vai embora. Hora!!!
Gota que seca,
Gota que molha,
Gota que gera:
Canções no espaço,
Corações aflitos.
Tudo isso
No seu infinito
Ping... Pong...
Ping... Pong...
Ping... Pong...
Ping...


Atividades

1. Assista o video abaixo - Ciclo da água - We will rock you (Youtube)




Agora responda:
Você sabe a origem da água que sai da sua torneira?
De onde sua cidade importa água?
Qual o tamanho da pegada ecológica da sua cidade em relação à água?

2. Veja a sequência de fotos tirada pelo Prof. Manoel Neto, do Laboratório de Física-Ensino da UFPA no site http://www.ufpa.br/ccen/fisica/gotas.htm e explique o ditado popular: "Água mole em pedra dura tanto bate até que fura".





3. O óleo é um dos poluentes mais comuns de cair na água. Observe as fotos abaixo e responda: A) Por que ele é considerado um poluente?
B) Como ele impacta a vida dos seres aquáticos?
C) Explique por que as partículas de óleo não se dissolvem na água.
D) Por que os detergentes dissolvem o óleo na água?
E) Qual o impacto do uso dos detergentes sobre a vida aquática?
F) Por que as aves aquáticas passam óleo nas penas? Onde esse óleo é produzido?






4. Qual a função das folhas que caem das árvores e arbustos sobre o solo de praças, jardins ou das matas?

As leis que regem a vida - Masaharu Tanigushi

Imagem da Galeria de Arte Atômica: Cobre sobre Ferro www.almaden.ibm.com/vis/stm/gallery.html,
www.terra.com.br/istoe/ciencia/143007.htm
Caracteres kanji para a palavra átomo. A tradução literal significa: criança original
Visite o site e veja desenhos feitos com átomos em escala nanométrica

Leia o texto abaixo:

"As leis físicas que regem a matéria inorgânica são diferentes das leis da Vida que regem organismos vivos. Por mais que se combinem elementos inorgânicos no interior de uma proveta, jamais se originará um organismo vivo.Para que as substâncias nutritivas sem vida constituam parte viva do corpo humano, é imprescindível que se submetam ao domínio da Vida. Os elementos materiais que se agregam ou se desagregam segundo leis físico-químicas, quando subordinadas à Vida, unem-se ou separam-se segundo uma outra lei.A vida se serve inclusive das leis da matéria, mas as sobrepuja e exerce domínio sobre a matéria. Embora utilize as leis da matéria, a Vida não se sujeita a elas; ao contrário, transcende-as e estrutura o corpo na forma que deseja. Portanto, em se tratando de organismo vivo, as leis da matéria se subordinam a leis da Vida.

"Masaharu Taniguchi - Sutras Sagradas

Sugestão de atividade:

À luz da Educação Ambiental, organize um debate sobre o texto de Masaharu Taniguchi com seus alunos envolvendo seus conhecimentos de Química, Física, Biologia.


Algumas pontos para aquecer o debate:

Afinal, o que é a vida?
O que são propriedades emergentes?
Discuta o conceito de sustentabilidade como uma propriedade emergente.
Relacione entropia e Vida.
Quais são as leis que regem o corpo de um organismo morto?
Como são criados os organismo vivos em laboratório?

"Visceral"

(Deborah Munhoz)

No fundo da minha veia,
está a teia,
estou na teia.

No fundo da minha veia,
está a históriade uma espécie,
de um planeta,
de um cometa.

No ventre de uma caneta
está a tinta que corre
nas veias, na teia, na vela
do barco que navega
e transpõe regras.

No mar das portas abertas
está o poeta, a meta, a viagem
que faz parte da veia, da vela, da história.

No fundo da minha memória,
está a glória
estou “in gloria”.

A todo esse movimento,
estou atenta,
sou benta.

*Em homenagem às diversas REDES da qual faço parte - em especial, aos mais de 10 anos de vivência em Redes de Educação Ambiental, particularmente com facilitadora da RMEA e REBEA.

- Poema vencedor do Prêmio Literário "Valdeck Almeida de Jesus de Poesia - 2007", a ser publicado na Antologia de mesmo nome - Lançamento previsto para junho/2008 - BA)

Publicado no projeto "Poesia para Todos no Metrô" da UFMG, em BH/MG.
Detalhes desse interessante projeto você encontra no site: http://www.letras.ufmg.br/atelaeotexto/leituraparatodos.html)


- Exercícios"

1) Usamos muito a expressão teia ou rede, para nos referirmos a rede de relações. Uma rede é como um Tecido Vivo. Surge quando um grupo identifica entre si um projeto em comum.
Você também pode criar uma rede propositalmente, ou ter mais consciência das suas redes:

Identifique as redes às quais você pertence ou pense na rede que quer criar:

1. Quais são os objetivos da rede?
2. Quais são suas áreas de atuação?
3. A quem interessa a rede?
4. Quem se beneficiará com o trabalho da rede?
5. Quem são (e por que) os potenciais integrantes da rede?
6. O que a rede pretende fazer?

Saiba mais:

Visite: http://www.rits.org.br/
Leia: MARTINHO, C. "Redes: uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto-organização", WWF, 2003

2) No poema "Visceral "existe um trecho que diz:

"No fundo da minha veia,
está a história de uma espécie, de um planeta, de um cometa."

Como é possível conhecer a história de um planeta a partir do fundo da veia?

Explique o trecho acima usando seus conhecimentos sobre partículas e astroquímica. Para enriquecer a discussão, assita o video Cosmos (consulte a barra de videos do Youtube no fim das postagens. Veja o video de 60´. Se alguém souber como eliminar os outros 3 da barra de filmes, me avise. Por enquanto, estão de enfeite.)


3. Assista o Video "A REDE" Música do Lenine.
Produção dos alunos do Anglo Cassiano Ricardo
A tela de abertura é mesmo escura, mas é só apertar o símbolo do PLAY...




A Rede
http://cifraclub.terra.com.br/cifras/lenine/a-rede-jsphj.html

Tom: Am - intr.: Dm7/A - Am7/E Am7/G - / Dm7/A - G11 - /

(Dm7/A - Am7/E Am7/G - / Dm7/A - G11 - /)
Nenhum aquário é maior do que o mar
Mas o mar espelhado em seus olhos
Maior, me causa um efeito
De concha no ouvido, barulho de mar
Pipoco de onda, ribombo de espuma e sal
Nenhuma taça me mata a sede
Mas o sarrabulho me embriaga
Mergulho na onda vaga
Eu caio na rede
Não tem quem não caia
Eu caio na rede
Não tem quem não caia
Caio na rede...

F7(13) Am7(9)
Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixe

F7(13) Am7(9)
De raio que controla a onda cerebral do peixe

F7(13) Am7(9)
Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixe

F7(13) Am7(9)
De raio que controla a onda cerebral do peixe

(Dm7/A - Am7/E Am7/G - / Dm7/A - G11 - /) 2x
(Dm7/A - Am7/E Am7/G - / Dm7/A - G11 - /)

Nenhuma rede é maior do que o mar
Nem quando ultrapassa o tamanho da Terra
Nem quando ela acerta, nem quando ela erra
Nem quando ela envolve todo o planeta
Explode, devolve pro seu olhar
O tanto de tudo que eu tô pra te dar
Se a rede é maior do que o meu amor
Não tem quem me prove
Se a rede é maior do que o meu amor
Não tem quem me prove
Se a rede é maior do que o meu amor
Não tem quem me prove
Se a rede é maior do que o meu amor
Não tem quem me prove

F7(13) Am7(9)
Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixe

F7(13) Am7(9)
De raio que controla a onda cerebral do peixe

F7(13) Am7(9)
Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixe

F7(13) Am7(9)
De raio que controla a onda cerebral do peixe
(Dm7/A - Am7/E Am7/G - / Dm7/A - G11 - /)...

Educomunicação Ambiental

(Deborah Munhoz)
Imagem: Dr Luciano Silva - Glóbulos Vermelhos após tratamento
com antibiótico - 2o Lugar no Concurso de Nanofotografia
Instituto de Ciências dos Materiais de Madri/2007

A semente é
A fruta é
O alimento é
A folha é
Flor é
INFORMAÇÃO

O sangue é
O leite materno é
A criança é
O sêmem é
O óvulo é
INFORMAÇÃO

O DNA É INFORMAÇÃO

O corpo é INFORMAÇÃO


O solo é
O rio é
O Ar é
ÁGUA é
INFORMAÇÃO

O pássaro é
O peixe é
A paisagem é
INFORMAÇÃO

A história é
A língua é informação

Consciência é IN FORMA AÇÃO

A solução é IN FORMA AÇÃO

IN FORMA AÇÃO É Educação

A solução é comunicação

A solução é COMUM ÚNICA AÇÃO

Limites

(Deborah Munhoz)

Li, escrevi, entendi, amei!
Vi, mordi, comi, mastiguei,
digeri!
Em mim, caminhei, tropecei,
errei!
Nua, sorri, percebi,
me achei!

Agora,
sei que os limites
fazem parte
da arte
Suas margens
me conduzem além

Entendi:
Sou sujeito
na minha história
Na do outro
sou memória

(Homengem ao trabalho de Teresa Rosseti)

Para pensar:


  • Você (re)conhece suas margens?
  • Você está sendo sujeito da sua história?
  • Para onde suas margens estão te conduzindo?

Tudo que se faz dá certo

(Deborah Munhoz)


Meu fazer é livre.
Fazer e, ao mesmo tempo, livre, pensar.
Meu trabalho é pleno de significados
Faço porque tenho o prazer de fazer
Faço porque amo aquilo que
posso ser para o mundo
Amo aquilo que dou, aquilo que dôo,
que troco, que vendo
Quando dôo, sou. Quando não sou, dói.
Meu trabalho tem signos, seus sinais tem sons

O trabalho soa expansão, é lazer, é não fazer
é parecer, não aparecer,
nem padecer ou apodrecer
É compor, é arte, filosofia, ciência
É consciência, até engenharia!
Faço e, livre, penso
Nasço naquilo que faço e desfaço
Dez passos fora do que é hegemônico
O preço de ser antagônica
a um sistema de mentes domadas
É ser criativa, fazer poesia
Fazer com prazer tudo o que faço
Parece loucura para quem simplesmente
cumpre regras, segue tabelas,
mas faz sem paz.

Meu trabalho tem valor!
Meu trabalho tem cor,
tem humor, tem Eros!
Porque, sem ser herói ou heroína,
faço o que quero
Porque faço um pecado
Que só pode dar certo.